edifício residencial em curitiba
*menção honrosa em concurso nacional de arquitetura | terceiro aberto weefor
arquitetura
ilha (arthur andrade, miguel mincache, pedro de borba) + coletivo 55 (ana luísa schoenell, joão victor ortiz, julia copat, mariana pfleger)
estado | concurso
projeto | 2025
local | curitiba, pr
desenhos
memorial descritivo
O terreno situado na esquina das ruas Mato Grosso e Amazonas carrega preexistências fundamentais para a memória material do bairro Água Verde. A introdução de uma nova edificação nesse contexto exige uma compreensão aprofundada da dinâmica entre conservação e transformação, garantindo que a memória não se perca, mas se propague através do desenho urbano.
Articulada por registros fotográficos e escritos, dissociada de sua funcionalidade, a espacialidade já imaterial da Siderúrgica Guaíra, torna-se um palimpsesto urbano, um suporte para reinterpretar espaços além do seu uso industrial anterior. O partido se debruça sobre espacialidades preexistentes para suscitar novas imagens, tanto históricas quanto fantásticas. Elementos como tanques preenchidos com água da chuva, estruturas aparentes do maquinário e telhados em ruína são ressignificados na forma de uma praça semi-alagada, onde vigas emergem sob comprimidos pilotis, promovendo uma relação dialógica entre passado e presente.
O caráter curvilíneo que define o embasamento, repercutido no desenho dos canteiros à margem dos logradouros almeja a construção de uma paisagem análoga ao Primeiro Planalto, com sua geografia marcante e acolhedora. Sobre esta geografia inventada, é proposta a construção da torre.
A telha ondulada, materialidade adquirida pela torre em suas extremidades, combinada com a cerâmica prevalente nas elevações, fazem referência ao léxico visual da cidade paranaense, com suas singelas casas de madeira e abundante cromatismo. Este resgate contemporâneo de aspectos vernaculares propõe a identificação afetiva com o endereço aos moradores e transeuntes.
térreo
A praça, configurada junto à Rua Mato Grosso, atravessa transversalmente o lote e rompe a lógica convencional de uma incorporação privada. Ao estabelecer um espaço de uso público que dialoga com o lote lindeiro, ela orienta a abertura para o futuro empreendimento WeeFor, acenando para o futuro da experiência urbana compartilhada. Essa operação é capaz de diluir a fronteira entre público e privado em prol de um uso coletivo dinâmico, criando uma cidade e espaços mais colaborativos e resilientes.
O espelho d'água e os pilotis estruturam um espaço permeável, abrindo-se para programas diversos e inesperados. A torre, disposta perimetralmente a esse recinto, preserva a centralidade da praça, enquanto um espaço comercial estratégico, localizado na esquina, reforça a vitalidade urbana e estabelece um novo marco referencial para o endereço.
Paralelamente à Rua Amazonas, uma lâmina de acesso conduz aos espaços privados do edifício. A posição estratégica desse volume considera aspectos de segurança e vitalidade urbana, ao passo que reforça a relação visual dos ambientes internos com a via lateral, evocando aspecto preconizado pela jornalista Jane Jacobs ao enfatizar a importância dos olhos da rua e da diversidade de usos para a criação de espaços urbanos seguros e dinâmicos.
torre
A estratégia volumétrica da torre responde ao desafio de acomodar um extenso programa construtivo sem comprometer sua relação urbana ou expressão arquitetônica. A acomodação dos usos parte da fratura em planta baixa da torre em lâminas perimetrais ao lote de testadas irregulares; estratégia capaz de criar vazios que articulam a escala urbana com generosidade espacial e voltam os apartamentos para amplas vistas laterais.
Os átrios resultantes dessa operação criam conexões visuais entre os espaços públicos e as circulações abertas da torre, culminando na área de lazer situada na cobertura. Dessa forma, promove-se uma integração inusitada entre funções geralmente segregadas, enriquecendo a experiência dos usuários. A estrutura da torre adota uma modulação rigorosa, fundamentada na eficiência material e no uso racional de recursos. Lajes protendidas de concreto armado definem um módulo padrão de 7,5 x 4,5 m, ajustado tanto às unidades residenciais quanto às vagas de garagem, permitindo uma disposição flexível e eficiente dos espaços internos.
As fachadas evidenciam a ordem estrutural do edifício por meio da expressividade dos pilares perimetrais e do destaque das lajes em cada nível. A "grade estrutural" aparente é complementada por uma prateleira de luz em concreto, que percorre longitudinalmente as fachadas, contribuindo para a leitura prismática do edifício e garantindo o seccionamento de pavimentos normativos. O peitoril em alvenaria é revestido externamente por ladrilhos e internamente complementado por anteparos metálicos vinculados às esquadrias, os quais permitem a ampliação da área envidraçada do edifício e a múltipla configuração de vedações em vidro, capazes de atender uma diversidade de ambientes.